A Tentação do Viral e a Fria Realidade
Você já abriu as redes sociais e viu aquele pequeno negócio, talvez até um concorrente, aparecer no seu feed com um vídeo que tem milhares de shares? Aquele misto de “uau, que sensacional!” com “e por que não somos nós?”.
A promessa do conteúdo viral é sedutora para qualquer empresário: alcance massivo, de graça, e uma enxurrada de novos seguidores. Mas aqui vai a verdade nua e crua que muitas consultorias caras não contam: viralizar pelo motivo errado pode ser pior do que não viralizar nunca.
Imagine uma confeitaria fina, especializada em bolos para casamento, viralizar com um meme sobre futebol. O alcance vai lá em cima, sim. Mas o público que chega é de solteiros que curtem futebol, não de noivas em busca do bolo dos sonhos. O engajamento cai, o algoritmo se perde e, no final, você tem 10 mil novos seguidores que nunca vão comprar nada.
Neste artigo, vamos destrinchar quando e como uma PME brasileira deve buscar o viral, com os pés no chão e a personalidade da marca no comando.
Antes de tentar viralizar, responda: “Isso faz sentido para o MEU negócio?”
Virar uma fábrica de memes ou um feed cheio de vídeos virais nem sempre é a estratégia certa para uma empresa que quer lucrar na internet. O viral só é válido quando serve ao seu objetivo comercial.
Uma estratégia de conteúdo viral faz mais sentido para sua empresa se:
- Seu objetivo é Brand Awareness (Reconhecimento da Marca): Você é um novo e-commerce ou um serviço local que precisa ser conhecido rapidamente.
- Seu público-alvo é amplo e está no TikTok/Instagram Reels: Se você vende para um público que integra as redes sociais, como os jovens cronicamente online, as redes funcionará como um playground para as suas estratégias.
- A cara da sua marca já é descontraída e alinhada com a internet: Uma hamburgueria artesanal ou uma marca de roupas streetwear têm mais facilidade de se encontrar nesses ambientes do que uma empresa que presta consultoria jurídica, por exemplo.
Mas espere um pouco, o que eu disse acima não é uma regra escrita em pedra. É uma generalização que pode sim funcionar se houver um planejamento eficaz e bem direcionado.
Cuidado! O viral NÃO é a prioridade se:
- Seu foco é Venda Direta (fundo de funil): Neste caso, a recomendação é que você dedique mais energia em estratégias que conversem diretamente com o seu cliente, de maneira mais direta já que ele está em estágio mais avançado na jornada. Uma estratégia viral atrais mais pessoas no topo, que precisa de tratamento e educação para se tornar um cliente potencial.
- Seu público é muito nichado (B2B, bens de alto valor, etc): Um fabricante de máquinas industriais provavelmente não vai viralizar facilmente no TikTok, e tá tudo bem!
- Sua marca tem um tom de voz mais sério ou técnico: um escritório de advocacia não precisa forçar uma dancinha, mas pode viralizar com um insight jurídico muito valioso e compartilhável.
👉 Ideia Prática: Pegue um papel e escreva: “O conteúdo viral vai me ajudar a ______.” Se a resposta for “vender mais para meus clientes ideais”, siga em frente. Se for só “ganhar muitos seguidores”, repense.
O Planejamento Anti-Zumbi: Alcance com Personalidade
O segredo não é seguir todas as trends, mas adaptar as trends à sua marca. É a diferença entre ser mais um zumbi na multidão e ser a pessoa criativa que todo mundo admira.
Passo a Passo para um planejamento que foca no alcance Certo:
- Conheça seu público como se fosse seu melhor amigo: onde ele passa tempo online? Que tipo de humor ele tem? Quais são as suas dores e aspirações? Um conteúdo viral para mães de 40 anos no Facebook é completamente diferente de um para gamers de 20 anos no TikTok.
- Defina o filtro da sua marca: crie 3 adjetivos que definam a personalidade da sua empresa (ex.: descolada, confiável, acolhedora). Antes de pular em uma trend, passe-a por esse filtro. A trend se encaixa? Se não, descarte ou adapte radicalmente.
- Comece com o que existe: Em vez de tentar criar um viral do zero (quase impossível), seja inteligente e pegue carona em trends existentes. A ideia é inserir seu produto ou serviço de forma orgânica e criativa em um cenário já testado e com menor risco. A dica é focar no que o seu segmento já tem feito.
Na Prática: Transformando Trends que (Talvez) Não Combinem
Vamos a exemplos reais para PMEs brasileiras:
Cenário 1: A trend de dança que não combina com seu escritório de contabilidade
- Trend genérica: aquela dancinha que todo mundo está fazendo no Reels.
- Adaptação inteligente (usando o filtro da marca): em vez de apenas dançar, mostre o time da contabilidade fazendo a coreografia com calculadoras nas mãos, ou dançando com pilhas de livros contábeis. A legenda pode ser: como a nossa equipe reage sabendo que ajudamos o cliente a economizar 30% nos impostos.
- Resultado: você usa o formato viral (vídeo curto e dinâmico) mas mantém a personalidade séria, porém descontraída, e conectada com o seu serviço.
Cenário 2: a trend do Get Ready With Me (GRWM) para uma loja de materiais de construção
- Trend Genérica: pessoas se arrumando para um evento.
- Adaptação inteligente: crie um vídeo get ready with me para reformar o banheiro. Mostre o cliente pegando a chave de fenda, o nível a laser e o capacete da sua loja. Use um tom engraçado e épico, como se fosse uma missão.
- Resultado: você se conecta com uma audiência de “faça você mesmo” (DIY) de forma extremamente relevante e memorável.
Cenário 3: O Áudio Viral Emocional para uma Marca de Alimentos
- Trend genérica: um áudio dramático e emocionante.
- Adaptação inteligente: use o áudio para contar a história de um produto. Mostre a colheita do ingrediente, o preparo cuidadoso, e finalize com um cliente satisfeito. A legenda: essa é a emocionante jornada do nosso pão de queijo, da roça até sua mesa.
- Resultado: você humaniza a marca e gera um apelo emocional em volta do seu produto, que é o seu core business.
Fuja do desespero pelo alcance
O maior erro é abandonar a identidade da marca na corrida por likes. Seguir uma trend polêmica, usar humor de mau gosto ou falar sobre um assunto que não domina só para ganhar engajamento é um tiro pela culatra. A internet tem memória, e o público percebe a falta de autenticidade.
Viralizacão com propósito
Para a pequena e média empresa brasileira, o conteúdo viral não deve ser um fim, mas uma ferramenta de amplificação. A base sempre será um negócio sólido, um bom produto e um atendimento excelente.
A estratégia mais inteligente é: Crie conteúdo consistentemente valioso para seu público específico. E, quando uma oportunidade de viralizar que esteja alinhada com sua marca aparecer, abrace-a com criatividade.
Antes de sair replicando a trend do momento, faça este exercício rápido:
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Reúna sua equipe (mesmo que seja só você!).
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Escolha uma trend popular da semana.
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Brainstorm: como podemos adaptar ISSO para falar sobre o benefício principal do nosso produto de um jeito que tenha a personalidade da nossa marca?
Lembre-se que o combinado não sai caro. Um bom planejamento é a chave para uma presença digital que faça sentido e traga resultados.
Bons negócios.